Sobre o Poeta:
"A quem ler minhas poesias,
assim rudes e arredias,
humilde peço perdão.
Sou um semi-analfabeto,
sem o primário completo,
desprovido de instrução."
Assim se auto define o genial poeta Antônio Henriques Neto, com a sua humildade peculiar e sem se dar conta do seu magnífico legado deixado para as gerações futuras.
Antônio Henriques Neto nasceu em Picuí, no sítio Bom Jesus, em 21 de novembro de 1923. Seus pais, Francisco Henriques da Costa e Justa Cândido Costa, eram agricultores e tiveram 7 filhos: Antônio, José, Elpídio, Euclides, Noêmia, Minerva e Iracema, no qual ele foi o primogênito da família.
Viveu sua infância no sítio Umari-Preto, de onde ele guardava os melhores momentos do seu tempo de criança. Nas proximidades de lá, no sítio Gravatá, especificamente na Escola Particular, ele foi alfabetizado. Sua primeira professora foi sua tia materna, Henriqueta Cândido Costa.
Quando adolescente, ele foi morar em Picuí, com seus tios maternos Sindá e Manoel Cândido. Nesse tempo, ele aprendeu a dirigir com seu tio Né Cândido (como era conhecido), de onde ele desenvolveu a profissão de caminhoneiro posteriormente. No entanto, foi com a sua avó materna, Maria Martins Costa, conhecida como “Mãe Marica”, que o poeta se mudou para a cidade de Esperança. Morando lá, ele estudou na Escola Municipal Irineu Jóffili, mas não chegou a concluir o primário ou admissão, atualmente conhecido como Ensino Básico: Fundamental 1. Sua avó, muito influente na cidade, conseguiu o seu primeiro emprego como tipógrafo e logo após como ajudante no posto de gasolina do seu tio Genésio.
Sua escolaridade, dessa forma, foi basicamente não concluída, já que ele voltou para Picuí para se alistar no Exército Brasileiro, no período da Segunda Guerra Mundial, entre 1944 a 1945. Na época, ele foi transferido para o Batalhão do Exército Estadual em Cruz das Armas, em João Pessoa, onde ele foi motorista dos coronéis e generais atuantes. Nesse tempo, ele foi convocado a viajar para o município de Muçurepe, em Pernambuco, para participar do treinamento de guerra em serviço à pátria. Na véspera de sua viagem para os campos de batalha, na Itália, foi anunciado o final da Segunda Guerra Mundial.
Antes de servir ao Exército, ainda em Picuí, ele viu Severina (sua esposa) passando pela rua, que a chamava de “minha noiva”, mesmo sem ela saber. Quando retornou à sua terra natal, Severina, por sua vez dizia às amigas do seu desejo de namorar Antônio. Desse amor à primeira vista, Antônio Henriques Neto e Severina Dantas Henriques se casaram em 29 de maio de 1949 depois de mais de 3 anos entre namoro e noivado. Dessa união nasceram seus 8 filhos: Adenilson, Ademilde, Adenilce, Adenilza, Adeneide, Francisco, Adeilma e Adriana.
Profissionalmente, ele foi tipógrafo, caminhoneiro, taxista, agricultor e poeta. Das suas profissões distintas, foi como caminhoneiro que ele encontrou inspiração para escrever suas poesias, descrevendo o que via e o que sentia pelas estradas brasileiras, especialmente nas suas andanças pelo sertão nordestino. Apaixonado pelo folclore e pelo linguajar autêntico e regional das pessoas que ele encontrava no seu caminho, o poeta se envolveu na produção da sua poesia matuta, escrita através dos contos, causos e estórias de um povo original na sua essência. Também amante da natureza, sua poesia era voltada à simplicidade e à quietude do sertão; todavia, havia um tom de tristeza e ansiedade nas suas escritas em relação à seca e à estiagem na agricultura pela falta de chuva na região.
Como dizia o poeta “adoro o sertão e com especialidade esse pedaço de chão onde nasci”, se vê claramente o seu lado patriota, tão bem expressas nas suas poesias “Meu Picuí”, “O berço que Deus me deu”, “Falando a Picuí” e “Nesse Picuí sertanejo”, encontradas nos seus livros publicados.
Num recorte de sua autobiografia, ele abre um parêntese às coisas que adorava, “...adoro a vida, criança, música, poesia, futebol e boas amizades”, de forma que da VIDA, ele foi agraciado com uma vida longa; das CRIANÇAS, ele foi abençoado com 16 netos e 17 bisnetos (um deles, Antônio Henriques, que recebeu o nome do bisavô em sua homenagem, ressaltando o seu significado que condiz ao seu nome, como “aquele de valor inestimável”). Da MÚSICA, ele apreciava o rei do baião Luiz Gonzaga e o seresteiro Nelson Gonçalves, mas dedicava horas do seu tempo ouvindo no rádio os cantores repentistas da região, como também era admirador da Banda Filarmônica de Picuí, pela qual foi homenageado com o
Além de poeta, ele foi apresentador do programa Forró do Poeirão, na Rádio Cenecista (em meados de 1980) e do programa A poesia na Sua Casa (2004), na Rádio Sisal, ambas emissoras de Picuí. Foi entrevistado pela TV Paraíba, dando enfoque histórico de sua terra natal, tendo em vista ser considerado a “memória viva” da cidade na época. Suas poesias foram divulgadas em outros estados brasileiros, destacando-se na Rádio Icoaraci (Belém do Pará), Rádio Bandeirantes e no programa de TV “Nas quebradas do Sertão” (São Paulo).
Recebeu a homenagem de “Honra ao Mérito” pela Rádio Serrana de Araruna (Paraíba), pelos serviços prestados como poeta à cultura popular. Em 1999, recebeu o prêmio “Augusto dos Anjos”, no Festival Sertanejo de Poesia, na categoria de poeta, com a poesia “Caçada Azalada”. Em 2001, foi homenageado pelo compositor, cantor e poeta Amazan, no lançamento de seu livro “Voz de um homem rude”, em João Pessoa; e em 2002, participou de comissões julgadoras de vários festivais de violeiros famosos da região.
Dotado de um humor ímpar e peculiar, ele sempre reunia pessoas ao seu redor por onde passava. Dessa forma, inspirou o humorista Rossini Macedo, mais conhecido como “Tonho dos Couros”, apelido esse originalmente dado ao próprio Antônio Henriques Neto, de uma história no seu passado relacionada a uma informação precisa dada a polícia local, de um ladrão de couros de animais que se escondia na cidade de Currais Novos, Rio Grande do Norte.
Inspiração para estudos acadêmicos, o poeta mais uma vez renasce nas universidades de Letras, História e Matemática. Em 2004, a monografia “A poesia de Antônio Henriques Neto na sala de aula: uma proposta pedagógica”, foi produzida pela sua filha Adeilma. Em 2007, outra monografia “Apologia poética: Antônio Henriques Neto, navegante da terra”, escrita por Udenilson da Silva Silveira. Em 2014, Paulo de Oliveira Nascimento, com a dissertação apresentada ao programa de pós-graduação “Escutando a voz de um homem rude: representações da cultura popular na obra de Antônio Henriques Neto”, e em 2020, sua neta Andréa Regina Henriques de Medeiros produziu um artigo que foi publicado nos anais do evento do I Congresso das Licenciaturas de Matemática em Belém do Pará “A matemática na poesia nordestina: uma proposta da Etnomatemática pela obra de Antônio Henriques Neto”. Uma ressalva à professora Dircineide Neves Dantas, quando no seu período universitário (no ano de 2000), na disciplina de Literatura Paraibana, ela realizou o trabalho pedagógico “Lançamento da poesia matuta, na obra do poeta Antônio Henriques”.
Autodidata, o poeta escreveu também a sua própria gramática. Baseada no livro “Biblioteca da Língua Portuguesa”, e com a ajuda do seu velho dicionário de bolso, que sempre carregava consigo nas viagens que fazia como caminhoneiro, ele produziu, ao seu modo, sua GRAMÁTICA AMIGA, que tanto o ajudou na sua aprendizagem e na formação do seu lado poético erudito, como ele mencionava em atributo ao livro: “Minha velha gramática, hoje vendo teu desgaste, destinei-me pôr em prática, as lições que me ensinaste”.
Sendo assim, seu legado se espalha em homenagens louváveis, tanto durante sua vida terrena quanto após sua passagem para o plano celestial. Dentre elas destacam-se o Desfile Cívico Escolar pela EMEF Felipe Tiago Gomes, em 2009, o Sarau Literário Poeta Antônio Henriques Neto, realizada pela Secretária de Educação, Cultura e Desporto, em 2017, a inauguração da Biblioteca Antônio Henriques Neto pela ECIT Professor Lordão, em 2019. Neste ano de 2021, a transmissão pelo Google Meet da I Semana Municipal de Leitura Virtual “Espetáculo da Poesia de Antônio Henriques Neto” pelos estudantes e professores da EJA. Homenagens essas feitas pelas entidades educacionais da sua terra natal Picuí.
Numa das suas citações, ele declara não ser uma pessoa triste, e que se pudesse escolher um tipo de morte, escolheria morrer sorrindo. Apesar de uma lágrima caindo do seu olho tão lindo e esverdeado, Antônio Henriques Neto faleceu serenamente no seu leito em casa, em 9 de setembro de 2017, aos 93 anos, ao lado da sua esposa e dos seus filhos, como ele desejava “Se nasci chorando e cresci sobre o solo de Picuí, minha cidade querida, quisera deixá-la rindo, no dia em que for saindo do espetáculo da vida, comprimir em minha mão a areia desse sertão, que vai meu túmulo cobrir, meus filhos junto a mim, presenciando o meu fim e deixar a vida sorrir”.
Referência e patrimônio cultural, Antônio Henriques Neto, poeta eclético e gênio da poesia e literatura, deixa um legado à posterioridade e à história de sua terra natal e de sua família e a certeza de que “um artista nunca morre, ele se muda” (palavras de Elisvaldo Dantas da Silva , professor da EJA da Rede Municipal de Picuí).
Adeilma Dantas Henriques Gurnett